O fim da Starliner? Boeing cogita vender seu setor espacial.

Na última semana o Wall Street Journal divulgou que a nova CEO de uma das maiores empresas da América, que participou da ida do primeiro homem à Lua, está cogitando se desfazer do seu setor espacial por motivos financeiros.

O fim da Starliner? Boeing cogita vender seu setor espacial.
Espaçonave Starliner no espaço durante o OTF-3 (Orbital Flight Test). Reprodução: @BoeingSpace

Não é novidade para ninguém que a Boeing sofreu problemas com a cápsula espacial Starliner e no setor de aviação comercial. Mas, os recentes problemas que fizeram a Starliner do Crew Flight Test (CFT) voltar para Terra sem a tripulação que subiu com ela fez com que a empresa perdesse uma quantidade alta de dinheiro.

Pouso da Starliner sem os astronautas após o CFT. Créditos: NASA

Somente no meses de julho a setembro a Boeing precisou desembolsar 250 milhões de dólares do próprio bolso para pagar custos adicionais da missão CFT.
Vale lembrar que o contrato da Boeing com a NASA é do tipo 'preço fixo', o que significa que o governo americano pagou uma quantia fixa de $5,2 bilhões (R$30 bi) para a empresa desenvolver o veículo e, demais custos precisam ser arcados pela empresa. Se pegarmos o gasto anual do bolso companhia veremos que os valores não são pequenos, totalizando quase 36% do valor pago pela NASA:

  • 2016 - $162 milhões
  • 2018 - $57 milhões
  • 2019 - $489 milhões
  • 2021 - $214 milhões
  • 2022 - $288 milhões
  • 2023 - $288 milhões
  • 2024 - $375 milhões

Estes valores totalizam $1,8 bilhões (R$10,4 bi) de prejuízo para a empresa, que agora está buscando reajustar sua estratégia para "conter as perdas e reajustar seu caminho". Além do setor espacial, a Boeing enfrenta outra crise financeira cada vez mais grave. Nos últimos dias seu maior sindicato rejeitou duas propostas de contrato e estendeu uma greve que paralisou a maior parte da sua produção de aviões desde o dia 13 de setembro de 2024. A greve teve seu fim anunciado na terça feira (05/11/24) e os 330.000 funcionários devem retomar os trabalhos nas fábricas. De acordo o Anderson Economic Group, esta foi a greve mais cara do século nos Estados Unidos, gerando um impacto de cerca de $11,56 bilhões (R$66,7 bilhões) indiretamente.

Funcionários da Boeing em greve. Reprodução: InfoMoney

Voltando para o setor espacial, desde que o último voo de teste da Starliner terminou, a Boeing não divulgou nenhuma atualização sobre seus planos para o futuro da espaçonave. Dois funcionários de alto escalão deveriam ter participado de uma coletiva de imprensa pós-pouso junto a NASA no Centro Espacial Johnson, em Houston. No entanto, poucos minutos antes do início da coletiva, dois assentos foram removidos - os funcionários da Boeing não compareceram. A empresa divulgou apenas uma declaração por escrito após a aterrissagem dizendo que os gerentes revisariam os dados e "determinariam os próximos passos para o programa".

Por ouro lado, a NASA está analisando janelas para voar a Starliner sem tripulação em uma missão de carga para a Estação Espacial no ano que vem, talvez para verificar se modificações no sistema de propulsão da nave realmente corrigiram os problemas descobertos no último voo. O problema é que, diferente dos veículos tripulados, a NASA não precisa de mais uma espaçonave de carga, especialmente com o veículo Dream Chaser da Sierra Space que deve fazer seu primeiro voo ano que vem. Além disso, ainda que eles voltem a fazer voos tripulados em 2026 (algo que a NASA gostaria), ela só teria utilidade por menos de cinco anos antes que a Estação Espacial Internacional seja desativada.

Simulação mostrando uma versão modificada da espaçonave Dragon tirando a ISS de órbita em 2031. Créditos: SpaceX

Por outro lado, mesmo que a Boeing decida se desfazer do se setor espacial, ela deverá manter sua posição supervisionando e colaborando com o Sistema de Lançamento Espacial (SLS), responsável por realizar os lançamentos do Programa Artemis.

Com todos estes cenários esclarecidos vemos que a decisão por parte da nova CEO não será fácil. Mas e você, acha que a Boeing deveria se desfazer da Starliner ou não? Comente abaixo.

Caso tenha gostado, não esqueça de compartilhar com os amigos, seguir a Arion Science e se inscrever em nosso newsletter para receber conteúdos exclusivos e as últimas atualizações em seu e-mail.

Referências:
https://www.wsj.com/science/space-astronomy/boeing-explores-sale-of-space-business-fa7fa3a9

https://arstechnica.com/space/2024/11/nearly-two-months-after-starliners-return-boeing-remains-mum-on-its-future/

https://spacepolicyonline.com/news/boeing-takes-another-250-million-charge-for-starliner/