Relatório da NASA aponta diversas falhas na missão Artemis I

Relatório da NASA aponta diversas falhas na missão Artemis I
Lançamento da missão Artemis I. Créditos: NASA HQ Photo

O Escritório do Inspetor Geral (OIG) da NASA liberou um relatório de 43 páginas detalhando diversos problemas enfrentados durante a missão Artemis I. Alguns deles podem atrasar as futuras missões tripuladas.

O Gabinete do Inspetor Geral (OIG) realizou uma auditoria nos principais sistemas das missões Artemis: o foguete SLS, a cápsula Orion, a torre de lançamento e os sistemas de comunicações terrestres.
Vamos entender melhor quais problemas tiveram em cada um desses sistemas.

O SLS

De uma maneira geral, o foguete SLS foi o que menos sofreu durante a missão, funcionou sem problemas. Entretanto, 2 pontos foram observados:

  • O OIG disse que será necessário uma precaução maior durante as futuras campanha de testes estáticos pois os motores RS-25 possuem vida útil limitada depois de instalados no foguete;
  • O sistema de separação dos boosters laterais (SRB) (propulsores laterais brancos) foi completamente revisado;
  • O sistema de autodestruição do SLS agora operará de maneira 100% automática.

Observação: os dois últimos tópicos são itens de baixas preocupações no momento.

A close-up view of the Artemis I Space Launch System rocket inside High Bay 3 of the Vehicle Assembly Building at Kennedy Space Center in Florida.
SLS no VAB (prédio de montagem). Créditos: NASA/Frank Michaux

De uma maneira geral pode-se dizer que o SLS cumpriu sua missão sem nenhum problema.

SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO EM SOLO

Parte essencial da missão que fica na Terra são os sistemas de comunicação, responsáveis por receber e enviar dados para o veículo. O sistema de solo a princípio não deveria falhar, pois seus servidores não são algo novo e não vão para o espaço, mas... não foi o que aconteceu.

O principal problema ocorreu no Deep Space Network (DSN) (rede de comunicações intercontinental responsável por monitorar diversos veículos e sondas no espaço, como as sondas Voyager 1 e 2) e nos sistemas de navegação terrestre. De maneira resumida, houve um apagão durante a missão de 4,5 horas, o que resultou na perda irrecuperável de dados de todas as sondas espaciais, incluindo a cápsula Orion.

Antena do Deep Space Network no Complexo do DSN de Canberra, Austrália. Créditos: NASA

A TORRE DE LANÇAMENTO

Agora sim, vamos falar de quem realmente sofreu danos durante a missão, mais precisamente no lançamento: A torre de lançamento móvel. Para dar um panorama geral, as obras de reparo na torre estão sendo concluídas agora, um ano e meio depois do lançamento.

Os principais danos na torre foram:

  • A porta do elevador da tripulação foi arrancada e os gases dos motores derrubaram o elevador. As portas foram parar a mais de 500 metros da torre, em um pântano próximo;
  • 60 caixas elétricas foram abertas devido a uma vibração de baixa frequência do SLS, coisa que nos ônibus espaciais, para qual a torre foi projetada, não existia. Para o próximo lançamento as equipes vão lacrar as caixas com faixas de metal;
  • As tubulações e encanamentos vão precisar ser substituídos praticamente por inteiro. Dezenas de encanamentos entortaram ou quebraram, quando não, sofreram oxidação devido a resíduos ácidos dos boosters laterais;
  • Excessos de detritos prejudicaram as estruturas da torre.
  • Muitas câmeras apresentaram mau funcionamento durante a decolagem, que somado ao lançamento noturno prejudicaram a obtenção de alguns dados, como trajetória de detritos (ex: tampa protetora das tubeiras dos boosters laterais).
Imagens mostrando alguns dos danos sofridos. Créditos: NASA

A CÁPSULA ORION

Chegamos nela, a cápsula Orion, a que mais preocupou os engenheiros, a final, é nela onde os astronautas ficarão. E ela sofreu diversos problemas, alguns poderiam ter custado a missão e ocasionado a destruição da cápsula durante a reentrada na atmosfera.

Durante a reentrada, o escudo térmico sofreu danos acima do esperado, perdendo grandes pedaços por quebra ou fragmentação. Isso em uma missão tripulada poderia causar a perda da tripulação

Câmeras onboard mostrando a reentrada. Créditos: NASA

Na imagem acima vemos fragmentos do escudo térmico que se desprenderam. Isso já era esperado, mas não nessa quantidade e intensidade.

Imagens mostrando alguns danos no escudo térmico. Créditos: NASA

Um grande problema disso é o fato das simulações e testes em solo não terem previsto/reproduzido essa falha. É preocupante pois a NASA não faz ideia da origem desse problema, e se não se sabe a origem, não é possível corrigir.

Além do escudo, a proteção possui 4 parafusos, que prendem o módulo de serviço. Ou seja, são pontos de fragilidade conhecidos, mas que foram projetados para aguentar as altas temperaturas do plasma na reentrada... o que não aconteceu! 3 dos 4 parafusos derreteram e permitiram que o plasma a cerca de 2.700ºC penetrasse dentro do escudo e colocasse a cápsula em um risco considerável de destruição. Os erros foram identificados (erro de projeto) e corrigidos, com os testes ainda pendentes.

Fotos mostrando os danos que os parafusos sofreram. Créditos: NASA.

Por fim, houve um problema no módulo de serviço: A caixa elétrica principal tinha vários “fusíveis” que desarmaram e a tensão estava mal regulada. E com esses fusíveis queimados, não havia mais redundância em caso de problema.

Orion’s European Service Module
Módulo de serviço da missão Artemis I. Créditos: NASA

A causa dessa falha foi uma reação à radiação. Para corrigir, o software de bordo foi modificado. Outras mudanças mais profundas podem ser implementadas, mas não antes do Artemis III.

Por fim, o OIG não conseguiu pegar e investigar os paraquedas e a tampa frontal da cápsula Orion, uma vez que foram liberados e afundaram antes da chegada das equipes. Houve muitos problemas durante o desenvolvimento dos paraquedas, que, embora corrigidos, não serão investigados.

Outro grande problema foi: UM QUARTO dos dados registados a bordo da Orion tiveram problemas de codificação, e ainda não foram recuperados. Softwares para lê-los estão sendo escritos, mas isso atrasa muito as análises. Os motivos para essa falha ainda são desconhecidos.

Encerrando os problemas, além de todos os já citados, dois novos surgiram para a Artemis 2, prevista para a segunda metade de 2025:

  • Baterias, que podem falhar em caso de ejeção da cápsula
  • Sistema de reciclagem de ar (não detalhado)

Observação interessante: serão gastos US$ 5 bilhões apenas nas Artemis I e II até 2025.

Por fim, o OIG não recomendou nenhuma alteração brusca no perfil da Artemis II, como a retirada de astronautas da missão. E sabendo que esse órgão tem uma visão mais crítica sobre os projetos, é de grande valor o apoio dado à NASA para a resolução dos problemas encontrados durante a Artemis I.

Esses foram todos os problemas apontados no relatório do Escritório do Inspetor Geral da NASA. E aí, o que achou? Comente aqui embaixo!! Se gostou, considere assinar nosso blog, é grátis!